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Reconstruções Digitais de Caparica e Alferrara Segundo os Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida

Reconstruções Digitais de Caparica e Alferrara Segundo os Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida

Como seria o convento arrábido ideal se seguíssemos as regras dos Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida o mais estritamente possível? Como se comparam instâncias específicas desses conventos com esse ideal?

Estas foram algumas das primeiras perguntas que nos guiaram na procura de uma representação tangível das regras. Uma vez que as adjacências espaciais foram escassamente definidas nos Estatutos, decidimos desenvolver, no nosso laboratório, um “quebra-cabeças” impresso em 3d onde os módulos volumétricos (relativos a cada espaço conventual) poderiam ser concretizados na forma de um kit de jogo (tangível) e reutilizados, sempre que necessário, na análise dos conventos em estudo. Como os conventos existentes foram (frequentemente) modificados (por vezes, profundamente) ou restam apenas ruínas, o “quebra-cabeças” pode ajudar-nos a descobrir pistas sobre os espaços originais e as suas funcionalidades, equiparando dimensões.

Cada peça do “puzzle” 3D foi impressa à escala de 1:100; a mesma usada nas peças gráficas (plantas, cortes, alçados) representativas de cada convento em estudo. Cada peça inclui o nome do espaço representado e as dimensões descritas nos Estatutos. Peças impressas em filamento branco são aquelas cujas dimensões são definidas nas regras; em vermelho são aquelas cujas dimensões são omitidas. Nos casos em que duas dimensões alternativas são definidas para o mesmo espaço, imprimimos as duas versões dimensionais, permitindo-nos assim maior tolerância para as nossas especulações espaciais. Um exemplo disso é a cozinha. Esta podia assumir maior dimensão se localizada fora do edifício principal. Eventualmente, esperamos que, ao estudar uma série de variantes arrábidas através do puzzle 3D, possamos aprofundar a compreensão sobre a configuração ideal dos espaços conventuais capuchos, assim como dos edifícios que nos chegaram até hoje.

As nossas hipóteses especulativas, sobre as evoluções espaciais dos conventos capuchos, serão modeladas num eventual HBIM. Apresentaremos os resultados a especialistas os quais poderão interagir e intervir nos desenhos e manipular os puzzles 3D de cada convento para oferecer alternativas ou validar hipóteses.

Em agosto, o puzzle 3D dos Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida foi usado para gerar especulações preliminares relativas a duas fases de construção dos espaços do convento da Caparica: 1558 e 1630. A primeira corresponde à fundação, i.e., à data da construção original do convento; a segunda corresponde à sua extensão, i.e., marca a etapa em que o convento foi ampliado no âmbito de uma campanha abrangente, ocorrida no séc. XVII, em que muitos conventos renovaram as suas fachadas e expandiram as suas igrejas. As conclusões conduziram a uma série de questões de pesquisa, em andamento em nossa investigação, e fundamentais para entender as manifestações originais do convento.

Também procuramos especular sobre o estado original do Convento dos Capuchos em Alferrara, e analisar como as regras dos Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida foram interpretadas neste caso, de menores dimensões comparativamente ao convento da Caparica, e mais próximo do seu estado original. Recentemente (2010-2012), as ruínas deste convento foram alvo de um projeto de estabilização (arquitetura / coordenação: Victor Mestre e Sofia Aleixo; fundações e estruturas: João Appleton e Pedro Ribeiro; conservação e restauro: António Vasques; construção: Nova Construção; dono da obra: AMRS). Em Alferrara, os módulos do puzzle alinham-se muito mais coerentemente com os espaços do edifício atual, contrariamente ao caso da Caparica. No entanto, parece ainda haver muitos espaços extras e funcionalidades não articuladas com as regras capuchas.

A hipótese destas abordagens comparativas é que a leitura permitida pelos modelos físicos favoreça uma ilustração mais inclusiva dos nossos esforços de reconstrução, os quais poderiam, assim, ser compreendidos por um público especializado e diverso constituído não só por arquitetos e historiadores, mas também por outras áreas de pesquisa (e.g., arqueologia, restauro, engenharia). Dado que os modelos se encontram justapostos aos planos dos edifícios na sua forma atual, os modelos também demonstram, visualmente, as lacunas de informação existentes sobre cada espaço no edifício relativamente à função original.

Agradecimentos:
The Social Sciences and Humanities Research Council of Canada (SSHRC)
New Paradigm / New Tools
Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa
Carleton Immersive Media Studio
Câmara Municipal de Almada
Universidade NOVA de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade (NOVA FCSH)

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