Interpretações Iconográficas dos Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida
Em maio de 2019, iniciámos o estudo do texto” Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida” (versão do século XVII) visando aprofundar o conhecimento sobre a história do Convento de Nossa Senhora da Piedade da Caparica, também conhecido por Convento dos Capuchos da Caparica, e das suas relações com os outros conventos arrábidos.
Ditando práticas da vida cotidiana, os Estatutos definem diretrizes para a manutenção de uma vida de estrita observância segundo os ensinamentos de São Francisco o qual defendia a pobreza, a contemplação silenciosa, a vida comunitária e os cuidados pastorais como maiores virtudes. O texto organiza-se em capítulos que descrevem detalhadamente muitos aspetos do dia-a-dia capucho, incluindo hierarquias políticas dentro da comunidade, rituais de jejum e regras rígidas para o guarda-roupa capuchinho, entre outros.
Além desses aspetos sociais, o texto também dita regras arquitetónicas para os conventos no seu capítulo 40 “Dos Edificios” (Sobre os Edifícios) fornecendo indicações sobre aspetos construtivos, dimensões e mobiliário para um conjunto de espaços conventuais: igreja, coro, sacristia, sala do capítulo, cozinha, refeitório, copa, dormitórios, biblioteca e hospedaria.
Com a ajuda dos historiadores Prof. João Luís Inglês Fontes, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), e Dr. Luís Nascimento, atual diretor do convento da Caparica, prevemos que este exercício de tradução será consequente de duas maneiras: em primeiro lugar, quanto à compreensão da organização espacial do convento da Caparica no seu estado original e, em segundo lugar, quanto à compreensão de como outros conventos integraram estas regras nos seus próprios edifícios.
Dado que o texto fornece essencialmente o ideal sistémico que todos os conventos da província da Arrábida deviam seguir, vemos nesta abordagem uma oportunidade interessante para explorar até que ponto as regras foram aplicadas ou alteradas nos diferentes conventos e, neste caso, o que justificou a sua divergência.
Traduções em inglês, modelos digitais volumétricos e um guia visual para os Estatutos da Província de Santa Maria da Arrábida (versão do século XVII), foram produzidos para todos os espaços conventuais descritos no capítulo 40 “Dos Edificios”.
O sistema de medição original do texto (palmos e dedos) foi convertido em convenções métricas atuais recorrendo a uma tabela de conversão da autoria de Oliveira Marques (1963). Enquanto para alguns espaços são definidas dimensões e adjacências, outros são vagamente descritos e não têm localização específica. A distinção entre volumes dimensionados e não dimensionados realiza-se através de cores diferentes. O vermelho representa espaços ou equipamentos sem dimensões definidas. Por exemplo, o coro deve estar situado numa construção semelhante a um alpendre exterior adossado ao volume principal da igreja, mas o seu tamanho não é especificado. Os espaços dimensionados são representados a branco e modelados de acordo com as dimensões definidas no texto. Constatámos que as descrições da maioria dos espaços incluíam dimensões, mas a relação entre os espaços raramente é referida. Uma questão em aberto na nossa pesquisa é se existe algum padrão de adjacências espaciais subjacente aos conventos capuchos.
Dimensionamentos e modelos digitais volumétricos foram registados num documento físico que serviu de base para anotações, durante os trabalhos de campo, no decurso de visitas aos outros conventos arrábidos. Esta foi a nossa maneira de concretizar descobertas, fazer comparações e registar futuras questões de pesquisa. Por exemplo, dado o claustro constituir um centro distribuidor na organização do sistema dos espaços conventuais é surpreendente a sua omissão no texto dos Estatutos.
Fonte: Oliveira Marques A H (1963) Pesos e Medidas, in: Dicionário de História de Portugal (vol. V) ed. J Serrão (Porto: Livraria Figueirinhas) pp 67-72.
Agradecimentos:
The Social Sciences and Humanities Research Council of Canada (SSHRC)
New Paradigm / New Tools
Instituto Superior Técnico – Universidade de Lisboa
Carleton Immersive Media Studio
Câmara Municipal de Almada
Universidade NOVA de Lisboa – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade (NOVA FCSH)