Tornar Visíveis os Traços de Nossa Senhora da Piedade de Caparica
Jesse Rafeiro a, Ana Tomé b, João Luís Inglês Fontes c
a Carleton Immersive Media Studio, Carleton University,
1125 Colonel By Drive Ottawa, ON K1S5B6, [email protected]
b Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa,
Av. Rovisco Pais, 1 1049-001 Lisboa, [email protected]
c Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa,
Avenida de Berna, 26-C / 1069-061 Lisboa, [email protected]
Após um extenso processo de renovação nos anos 50, do século XX, aliado à ausência de documentação (histórica e contemporânea) ao longo da sua vida, o Convento dos Capuchos de Caparica (1558) não permite, hoje, reconhecer a configuração original dos seus espaços. Atualmente, o convento serve a comunidade de Almada como espaço para recitais, concertos, casamentos e outros eventos sociais os quais, embora frutuosos para a comunidade, ocultam a sua conceção original como lugar de silêncio e contemplação solitária para um pequeno grupo de frades franciscanos conhecidos em Portugal como Capuchos. Uma compreensão mais profunda da história do edifício é necessária, uma vez que essa compreensão do passado permitirá melhor continuar, no presente, o papel deste edifício cultural no município de Almada. Desde 1558, gerações de Capuchos viveram no convento até à extinção, em 1834, das ordens religiosas em Portugal. Depois disso, foi abandonado durante mais de cem anos até que o projeto de renovação dos anos de 1950 veio inserir novos programas e espaços não relacionados com a atividade do seu passado. Um melhor conhecimento sobre o estado original do edifício exigiria uma investigação arqueológica extensa e invasiva. Mas, tal investigação poderia – apesar de tudo – deixar-nos com uma imagem incompleta. Assim, e porque não existem desenhos ou descrições do edifício antes da renovação, o projeto de investigação descrito neste artigo emprega uma abordagem interdisciplinar, congregando diferentes métodos para uma reconstrução virtual do passado. O objetivo será validar cientificamente uma eventual reconstrução HBIM, sobre uma condição espaço-funcional especulativa do convento anterior aos anos 50 do século XX. A abordagem combina análise e visualização de textos históricos com levantamento fotogramétrico de espaços e elementos construtivos encontrados noutros conventos da região. A obra “Estatutos da Província de Santa Maria de Arrábida” constituiu uma referência essencial – na sua versão do século XVII, delineia as regras para a construção de todos os conventos franciscanos (frades menores) desta província. Inclui descrições e dimensões rigorosas dos espaços, procurando assegurar uma austeridade, no âmbito da ordem, consistente com os seus ideias. Ao visualizar os espaços e as relações do convento ideal, tal como descrito nos Estatutos, foram também estabelecidas comparações entre instâncias específicas de conventos do mesmo período, região e ideologia franciscana. Deste modo, os remanescentes vestígios do presente poderiam ser ligados ao passado. Outro método utilizado envolveu a utilização de levantamentos fotogramétricos para adquirir modelos (de nuvens de pontos) de espaços e elementos construtivos, comuns entre os conventos Capuchos, nomeadamente em Alferrara, Arrábida e Sintra – um “triângulo franciscano” em volta de Lisboa – como meio de visualizar e comparar aspetos deste convento capucho, certamente existentes no passado, mas hoje sem vestígios aparentes. Na sequência destes estudos, é delineada uma futura reconstrução HBIM, identificando os elementos de construção de acordo com várias fontes de informação (e.g., textos, desenhos, visitas de campo) e níveis de fiabilidade (certeza ou especulação), tal como registados ao longo da investigação.
Palavras-chave: Reconstrução virtual, Património arquitetónico, Documentação patrimonial, HBIM, Fotogrametria, Modelação digital, Impressão 3D, Conventos Capuchos
PROHITECH 2020