Ensino HBIM: Encontrar o Mosteiro Perdido da Madre de Deus
No Outono de 2021, e na sequência da reestruturação curricular implementada no Instituto Superior Técnico, foi lançada uma nova unidade curricular, no 5ºano do Mestrado Integrado em Arquitetura. Intitulada HBIM (Historic Building Information Modelling), inclui os alunos no contexto de projetos de investigação em curso, visando introduzi-los ao HBIM como ferramenta de documentação patrimonial e de investigação histórica. No primeiro ano de funcionamento da disciplina, escolhemos como tema “encontrar o mosteiro perdido”, na continuidade da nossa investigação no Museu Nacional de Azulejos em Lisboa.
Muito anteriormente à sua função como museu, o Mosteiro da Madre de Deus foi fundado pela Rainha D. Leonor de Lencastre (1509) a partir de um palácio pré-existente. Após aprenderem métodos básicos de modelação com nuvens de pontos, em Revit, através da plataforma de e-learning do IPTI, os estudantes foram organizados em grupos, com projetos específicos, tendo como missão revelar mistérios e visualizar hipóteses sobre o núcleo do mosteiro primitivo, do século XVI.
Superando o âmbito do HBIM como instrumento de documentação, o objetivo desta disciplina é também a descoberta. Os alunos foram convidados a considerar as seguintes questões (entre outras): Como pode o HBIM contribuir para a revelação de histórias arquitetónicas complexas? Como podemos representar as nossas especulações tanto sobre o possível como sobre o impossível? Como é que as nossas descobertas podem ser comunicadas a diversos públicos de forma cativante?
Utilizando materiais de investigação híbridos tais como pinturas, textos, fotografias, desenhos históricos, nuvens de pontos e conversas com especialistas, os estudantes estão, atualmente, a responder a algumas destas questões através da reconstrução de fragmentos tangíveis e intangíveis da história do edifício.
Dados históricos utilizados para construir hipóteses preliminares sobre a igreja original.
Mantendo os resultados da aprendizagem flexíveis, os estudantes dividem-se em grupos de vários tamanhos e âmbitos de trabalho com base nos seus interesses pessoais. Alguns estudantes estavam mais interessados na investigação histórica e escolheram tópicos que envolviam a visualização de hipóteses de investigação e especulações. Outros ficaram curiosos em explorar a impressão 3D e a divulgação pública para deficientes visuais. Outros grupos assumiram diferentes tarefas relacionadas com o edifício no seu estado atual. Estes estudantes, mais interessados em melhorar as suas capacidades de modelação digital, escolheram espaços arquitetonicamente complexos do edifício atual como foco do seu trabalho.
Tentativas preliminares de reconstrução (seleção).
Para introduzir os estudantes ao conhecimento do edifício e às suas tarefas, o diretor do museu, Dr. Alexandre Pais, guiou os grupos de estudantes numa visita introdutória ao Museu. Estes percorreram os espaços que albergaram diversas funções ao longo dos seus 500 anos de história. A nossa investigação sobre o claustrim foi também apresentada como um estudo de caso, demonstrando como as ferramentas digitais podem ajudar a visualizar estados anteriores do edifício. Este exemplo também ajudou os estudantes a compreender os tipos de questões e dificuldades levantadas pela comparação de desenhos históricos e nuvens de pontos.
Primeira visita guiada ao Museu Nacional do Azulejo.
Agora, a meio do semestre, os estudantes têm vindo a modelar a partir de conjuntos de dados diversos, ilustrando hipóteses e colocando novas e inesperadas questões de investigação. A oportunidade de apresentar o seu trabalho a dois especialistas em património foi organizada pelo Dr. Pais e teve lugar na Sala D. Manuel do museu. Os convidados foram a Dra. Paula Figueiredo (Chefe de Divisão de Arquivo, Documentação e Bibliotecas, da Direção Geral do Património Cultural – DGPC, Forte de Sacavém), doutorada em História de Arte e especialista em arquitetura religiosa, e o Professor Nuno Senos (Departamento de História da Arte, Faculdade de Ciência Sociais e Humanas (FCSH), da Universidade Nova de Lisboa), doutorado em História da Arte e especialista em arquitetura portuguesa do século XVI.
Os estudantes apresentam o seu trabalho aos especialistas: Dr. Pais, Drª. Figueiredo e Dr. Senos no Museu Nacional do Azulejo.
Independentemente da investigação específica de cada projeto de grupo, todos os estudantes estão a trabalhar com a tecnologia HBIM. Como o nosso fluxo de trabalho HBIM utiliza o software Autodesk Revit, padrão da indústria AECO, a disciplina dota os estudantes com as competências necessárias para enfrentarem as exigências quanto a competências digitais na indústria da Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação (AECO). A adoção deste tipo de fluxo de trabalho digital é uma agenda importante no âmbito das práticas de investigação e conservação a nível mundial para registar, proteger e divulgar valores tangíveis e intangíveis do património arquitetónico. Explorando o desenvolvimento de competências hibrídas, a disciplina atuou também como um laboratório de investigação para apoiar as muitas dimensões de competência digital necessárias para uma nova geração de especialistas em conservação, numa época em que a preservação dos valores do património é tão importante como a preservação física. Nos próximos meses estaremos a partilhar mais resultados e imagens fantásticas do trabalho dos nossos alunos no nosso site… por isso fiquem atentos!
Agradecimentos:
Museu Nacional do Azulejo