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Visita Virtual ao Mosteiro de Nossa Senhora da Rosa

Visita Virtual ao Mosteiro de Nossa Senhora da Rosa

As ruínas do Mosteiro de Nossa Senhora da Rosa de Caparica situam-se na freguesia de Caparica, concelho de Almada, num vale entre o Monte de Caparica e a Charneca de Caparica. O mosteiro pertenceu à Ordem dos Eremitas de São Paulo, Primeiro Eremita, e teve a sua origem num eremitério fundado em 1410. Hoje, poucos vestígios do antigo edifício permanecem; parte das suas fundações encontram-se em propriedade privada. Felizmente, existe um conjunto de desenhos no Arquivo Nacional da Torre do Tombo que aparentemente ilustram duas fases da história do edifício: 1) a sua configuração nos finais do século XVI e; 2) um projecto de remodelação, do arquitecto real Luís de Frias Pereira, talvez de inícios do século XVII (Mendes, 2017). A investigação apresentada relata a reconstrução virtual deste mosteiro no século XVII, a sua última fase de vida.

Uma análise inicial dos desenhos revelou várias inconsistências. As portas e janelas por vezes não coincidem, as linhas das secções muitas vezes não estão em conformidade com a sua localização nas plantas, e foram identificados erros na representação das abóbodas em corte. Alguns desenhos de pormenor foram também difíceis de localizar, uma vez que não estão claramente marcados nas plantas ou cortes. Foi necessário recorrer a interpretações de situações análogas em conventos existentes e, também, ao senso comum arquitetónico para reconciliar as representações fragmentadas.

Uma sequência de imagens mostrando o modelo sobreposto ao plano de Luís de Frias Pereira.

O modelo foi extremamente útil na verificação da conformidade das fotografias históricas do mosteiro com os desenhos do arquitecto. Uma comparação entre uma secção do modelo e uma fotografia histórica de 1913, que retrata os restos da igreja antes da sua demolição total, mostra que o edifício, pelo menos em parte, poderia ter sido construído de acordo com as indicações do desenho de Luís de Frias Pereira. Vários elementos comuns estão presentes: o arco da abside, o arco da capela lateral, a sacristia, os vestígios da abóbada, e a inclinação do telhado da abside. O perfil da parede que alberga o arco da abside, dividindo este último da nave, realça uma possível discrepância, embora a fotografia mostre o edifício num estado altamente degradado.

Fotografia da ruína (restos do Mosteiro, Ilustração Portugueza, 24 de Novembro de 1913.) comparada com uma seção do modelo digital pela nave da igreja.

Após a conclusão do modelo digital, várias fontes históricas foram sobrepostas para tentar relocalizar o edifício no seu local original. As fontes incluíam um excerto do Mapa Topográfico da Península de Setúbal datado de 1816, o mapa de 1903 dos arredores de Lisboa, e uma fotografia aérea de Caparica, datada de 1940 (onde os restos da igreja são presumivelmente visíveis). Com base nesta sobreposição, foi identificada uma possível relocalização que também correspondia ao local onde hoje se encontram as pedras – supostamente do arco da abside – que outrora pertenciam ao mosteiro.

Os 3 mapas utilizados para especular sobre a localização do mosteiro.

Foi realizado um levantamento digital destes fragmentos captados através de varrimento laser e fotogrametria aérea para determinar a sua plausibilidade. Com os dados, foi realizada uma anastilose virtual para reconstruir digitalmente a curvatura do arco original e verificar, através de comparações com o modelo digital e a foto histórica de 1913, se pertenceria à igreja, de modo a corroborar as hipóteses acima mencionadas. Sobrepondo as malhas fotogramétricas dos elementos levantados na foto de 1913, foi encontrada uma alta compatibilidade entre estes fragmentos e o arco original em termos de tamanho, curvatura, e elementos decorativos. Com base nisto, o diâmetro do arco foi considerado compatível com os desenhos de Luís de Frias Pereira.

Sequência de imagens mostrando a documentação dos fragmentos encontrados e a subsequente anastilose virtual.

A transição de 2D para 3D ajudou-nos a questionar as decisões que tinham sido tomadas e a reformular teorias sobre os possíveis usos dos espaços que constituíam o mosteiro. A tradução do desenho para 3D permitiu, por exemplo, ver algumas inconsistências entre os desenhos, as quais tinham escapado à primeira vista. A tradução, no entanto, nunca é completa e inteiramente consistente com os desenhos originais. Por esta razão, o modelo digital desenvolvido como resultado deste projecto não pretende ser uma reconstrução objetiva da composição morfológica do mosteiro a partir de 1593. Pelo contrário, o objetivo da investigação era desenvolver um modelo capaz de destacar o processo interpretativo por detrás do trabalho de tradução. Como resultado, o modelo é inacabado, um elemento reversível e em constante evolução, cuja interpretação pode ser revisitada e atualizada com base em futuros processos de aprofundamento do modelo.

Sequência de imagens mostrando a reconstrução virtual final.

Referência: 

Mendes, Rui (2017) Os desenhos do Mosteiro de Nossa Senhora da Rosa de Caparica / 1593-1630 e o Arquiteto Régio Luís de Frias Pereira, ARTIS – Revista de História de Arte e Ciências do Património, Nº5.

Agradecimentos:

Damiano Aiello (Carleton Immersive Media Studio, Carleton University)

Rui Mendes (Nova University Lisbon)

The Social Sciences and Humanities Research Council of Canada (SSHRC)

New Paradigm / New Tools

Instituto Superior Técnico – University of Lisbon

Tokyo College – The University of Tokyo

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